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Texto do ETC_MANAUS: Twitter & Cidadania

Se você não tem uma conta no Twitter provavelmente não ficou sabendo que ontem, na MegaStore da Saraiva, ocorreu o Primeiro ETC_Manaus. O evento foi um absoluto sucesso,  graças ao empenhado esforço do professor Sérgio Freire e sua equipe, sem esquecer do apoio essencial dos patrocinadores.

Mantenho um perfil pessoal no Twitter (@danielnogueira)  e sou um dos que usa o perfil do bLex (@bLex_com_br) e talvez por isso fui convidado a ser mediador de uma das mesas, a de Twitter e Cidadania. As regras do ETC estipulavam que cada mediador deveria preparar uma curta apresentação contextualizando o tema. Abaixo, o breve  discurso de introdução  que preparei.

Twitter é um grande equalizador. Não importa o poder, dinheiro ou influência do usuário. É indiferente a equipe e os recursos que ele tem a seu dispor. Não interessa se é alguém como Barak Obama e CNN ou alguém como o Steven Conte e a Isabella Jacob. Todos começam a conta com a mesma oportunidade de amealhar followers e com os mesmo 140 toques.

Essa equalização tem um poder democrático importantíssimo pois dá  ao cidadão comum o mesmo poder de expressão e comunicação que antes era reservado a alguns poucos. Esse fenômeno de democratização, que de certa forma também ocorreu com sites e blogs, foi potencializado no twitter. Afinal de contas, noutros cantos da internet, o orçamento disponível para um projeto significa um diferencial de design, arquitetura e recurso tecnológicos. Mas não no twitter: todos tem 140 caracteres para emprestar para o timeline daqueles que decidem segui-lo.

Com essa pulverização de “poder” e equilíbrio de oportunidades, o cidadão comum passa a ter um mecanismo igualitário para expressar sua voz. Por consequência, temos um ambiente ideal para o que o cidadão conheça e pratique seus direitos. Noutras palavras, o twitter é um meio que tem se mostrado importante para o exercício da cidadania.

Essa prática de cidadania a 140 toques por vez pode não é mera aspiração ou um conceito teórico. Preste atenção na sua timeline e você provavelmente verá isso ocorrendo na prática.

Partindo do meu exemplo pessoal, quando escrevi no blog mantido pelo meu escritório um texto reclamando da qualidade do serviço do cinema do Manaura, postei o link no twitter. A partir daí fui surpreendido com a quantidade significativa de retweets que o link recebeu. Cada twitteiro que leu o artigo e se incomodou com os fatos descritos exerceu um ato de cidadania quando repassou a informação aos seus próprios seguidores. Mas isso não é nem a ponta do iceberg.

Protestar é cidadania. Que o diga a NET  e outras empresas que viram alvo fácil e recorrente de criticas no twitter.

Debater uma posição política independentemente da ideologia é um dos maiores exercícios de cidadania que existe. Não interessa o que você é: trotskista, integralista, objetivista, eduardista, alfredista, tanto faz. Defender a sua política, por mais errada que ela seja, é uma conquista constitucional enorme e o twitter é um ambiente propício para popularizar o “marketplace of ideas” no âmbito político.

Os debates políticos do twitter têm sido fundamentais para retirar uma enorme parcela de jovens, senão do marasmo, mas pelo menos da apatia política. Num texto escrito por um jovem colega do escritório o @fabiolindoso, ele disse:

    Faço parte de uma geração politicamente apática. Não vi a ditadura e durante o primeiro aborto democrático do país eu ainda me interessava muito mais por bola de gude e futebol de botão. Durante a sanha das privatizações eu ouvia muito e entendia muito pouco. Até confesso que mais por desinteresse do que por qualquer outra coisa.

Para muitas pessoas da idade o Fábio, e outras tantas que são mais jovens, o twitter tem sido o primeiro fórum que lhes dá a oportunidade de praticar o ato cidadão de pensar politicamente e escolher suas convicções. Alias, é mérito de certos grupos políticos de saber explorar o twitter com mais maestria do que outros. Estão plantando sementes que germinarão daqui umas três ou quatro eleições.

Apesar de política – que é espécie do gênero cidadania – fazer parte de outra mesa, eu seria omisso se não citasse aqui o ato de cidadania que cerca o movimento de protesto da taxa do lixo. Independente do mérito do protesto, a democracia é o produto da confluência das vozes da sociedade. O twitter foi o mecanismo que permitiu que o debate se organizasse e que o tema se tornasse um tópico relevante da nossa sociedade a partir de um movimento aparentemente de base. E, como disse acima, é direito constitucional e exercício de cidadania a manifestação de posições políticas, ainda que manifestamente equivocadas.

Afora a política e a crítica, há outros claros exemplos de cidadania nas timelines manauaras.

É um exercício cidadão e louvável usar o twitter para convidar as pessoas a doar sangue.  Esse ato de cidadania é maior ainda quando um usuário comum, além de receber o convite do HEMOAM e ir doar sangue, instiga os seus próprios seguidores a fazer o mesmo.

Também  é cidadania informar as pessoas de seus direitos. Qualquer um que segue a Dra. Jussara Pordeus (ou agora o MP_Cidadania) com certeza já viu as longas e sequenciais listas de links que se dispõem a fazer exatamente isso, muito embora o conceito do que o Ministério Público acha certo nem sempre seja unanimidade. Aliás, como normalmente a minha relação profissional com o MP é análoga à relação profissional que o goleiro mantem com o atacante adversário, não é de se espantar que as nossas opiniões nem sempre convirjam.

Agora, uma das funções cidadãs dos usuários do twitter que eu acho mais interessante de se pensar a respeito é a que é exercida por perfis como o PostosManaus e o TrânsitoManaus. Não sei se o Júlio ou o Luiz Eduardo já refletiram sobre seu papel social sob a vertente econômica, mas se o fizeram já perceberam que a sua existência está acabando com uma falha que causava o fracasso da operação eficiente da mão invisível do mercado.

A Lei de Mercado sustenta que o mercado se auto-regula. Se “opção A” for melhor do que “opção B”, as pessoas vão escolher “A” em detrimento de “B”. Logo “A” terá sucesso e “B” não.

Mas para que a lei do mercado opere eficientemente alguns pressupostos precisam ocorrer. Um deles é a informação perfeita (ou pelo menos simétrica). Se eu não sei que tem um posto de gasolina vendendo combustível mais barato, como é que posso exercer a opção de comprar naquele posto. Com o papel exercido pelo Júlio do PostosManaus e seus colaboradores, essa informação passa a ser disponível para todo mundo, dando uma chance melhor para que mercado se auto-regule.

De idêntico modo, a vertente social da Lei de Mercado deveria operar no trânsito. Se tenho três caminhos possíveis para ir para casa, tenho sempre interesse de pegar o menos engarrafado. Se todos fizerem isso, o trânsito se espalha pelas três vias de modo uniforme, otimizando o uso das vias públicas e todos ficam felizes.

Mas se não sei onde estão os pontos de engarrafamento, não tenho como optar de modo informado sobre o melhor caminho a tomar.   Ou melhor, não podia.

Com o trabalho coletivo do pessoal do TrânsitoManaus agora é possível ter alguma noção sobre as ruas que devem ser evitadas. Aliás, essa utilidade pública é talvez a demonstração mais clara de como o twitter e pessoas de boa vontade podem ter um impacto positivo. É um conceito simples, elegante, sem maiores complicações tecnológicas e que existe graças às pessoas que estão dispostas a compartilhar informações em prol da coletividade e, com isso, exercitar a sua cidadania.

Antes de encerrar e passar a palavra aos debatedores, tenho que fazer uma ressalva. O twitter não é panaceia de todos os males. O protesto feito de pijama na frente de um computador não se substitui à real atuação na vida política da nossa sociedade. De nada adianta criticar um empresa, mas continuar sustentando a sua incompetência. Dar RT em convites para doar sangue não adianta nada – e é até de certo modo hipócrita – se você não sai de casa para colocar uma agulha no braço. Além disso, existe um problema enorme que pode facilmente ocorrer no twitter , que é a autosustentação e alienação ideológica de quem só se relaciona com pessoas afins, mas essa é uma discussão longa demais para o tempo que tenho.

Mas mesmo com todos esses problemas, realmente acredito que um usuário ativo do twitter tem uma oportunidade melhor de ver, vivenciar e praticar cidadania do que, por exemplo, o telespectador médio do Big Brother Brasil. Com todos seus defeitos, o twitter dá as ferramentes para que a cidadania seja um pouco mais viva.


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