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O julgamento de Marcelo Miranda

Ontem à noite eu estava no TSE, aguardando o julgamento de um processo meu que está pautado desde terça-feira passada. Assim, estava presente ao desfecho final do julgamento de Marcelo Miranda, governador de Tocantins.

A sessão foi brutal.

O TSE tinha definido que a decisão de cassação seria cumprida logo após o julgamento dos Embargos de Declaração, e não após a publicação da decisão dos embargos. O advogado do Governador cassado lutou valorosamente para evitar o julgamento dos embargos. Lutou até um pouco mais do que devia.

A defesa do Governador interpôs mandado de segurança preventivo e ingressou com uma ação declaratória incidental aos embargos, possivelmente para evitar que o julgamento dos aclaratórios acontecesse na noite de ontem. De nada adiantou. A liminar do MS foi denegada pelo pleno antes de julgados os embargos, e a ação declaratória incidental foi rejeitada pelo relator.

A equipe de defesa do Marcelo era absolutamente estelar. Atuando em seu favor, ou em favor de seus litisconsortes, estavam advogado do naipe de Fernando Neves e Torquato Jardim. No entanto o advogado que se apresentou à tribuna era o rapaz mais jovem, que eu não conheço de vista, e cujo nome eu não anotei.

Logo após rejeitados o MS e a ADI, o presidente do TSE anunciou o julgamento dos embargos de declaração. Imediatamente, o advogado que estava na tribuna pediu a palavra, afirmando que tinha 8 questões de fato para suscitar. A reação desconfortável dos membros do pleno foi visível. Tanto o presidente quanto o relator (Min. Félix Fischer) disseram ao advogado que não poderia suscitar qualquer questão de fato se nem mesmo o relatório tinha sido lido, pedindo que aguardasse pelo menos sua leitura. O advogado permaneceu na tribuna enquanto lido o relatório. Findo o relatório, o advogado que estava na tribuna novamente pediu a palavra. Antes que pudesse iniciar, o advogado e ex-ministro Torquato Jardim (que advogava para o mesmo cliente do advogado que estava na Tribuna) levantou e pediu para fazer uso da palavra. O advogado que estava na tribuna protestou que já estava falando. O ex-ministro insistiu e disse que seu pronunciamento era prejudicial ao do advogado mais jovem.

Assumindo a Tribuna, o Ministro Torquato informou à Corte que não tinha a menor idéia que aquela estratégia seria utilizada pelo outro advogado, que fora recentemente constituído por seu cliente, e que não sabia que seriam suscitadas oito questões de ordem, e que, por conta de tudo isso, estava “irremediavelmente renunciando” apud acta do patrocínio da causa. Saiu da Tribuna, juntou suas coisas, e saiu do plenário. O ex-ministro Fernando Neves saiu logo depois, não se sabe se para conversar com o Min. Jardim ou para também sinalizar seu abandono ao patrocínio da causa. Só retornou quando relator estava no meio de ler o voto dos embargos.

O advogado que ficou na tribuna voltou a insistir em aduzir as ditas oito questões de fato. Assim que começou, foi interrompido pelos julgadores, que declaram a intervenção inoportuna. Derrotado em todas suas tentativa, o advogado provocou a Corte com o que seria a gota d’água:

“Como diria Rui Barbosa, Vossas Excelências estão com o poder, mas eu estou com o Direto”

Em resposta a isso, o Ministro Marcelo Ribeiro reclamou ao presidente que depois de todas essas manobras tumultuárias, o advogado estaria agora desrespeitando a Corte.

Ainda da tribuna, o advogado ouviu do Ministro Presidente Carlos Ayres Britto, num tom ríspido reservado aos momentos de se impor respeito com dedo em riste:

“Vossa Excelência retire-se imediatamente ao Plenário!”

Enxotado, o advogado reuniu suas coisas e também foi embora.


3 comments to O julgamento de Marcelo Miranda

  • Rodrigo Dias

    Confesso que nunca participei do pleno do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas. Digo, pra não dizer nunca, certa vez, participei de uma, quando o prédio do Egrégio Tribunal era no nobre Palácio da Justiça. Apenas uma.
    Já no pleno do TRE, este já frequentei muitas vezes e, pode até ser impressão minha, mas os julgados são mais empolgantes, mais acalorados.
    Parece que no TSE a coisa não fica muito distante não.
    Confesso mais uma coisa, gostaria de ter visto essa discussão.

  • Daniel Fábio Jacob Nogueira

    Tem mais, Rodrigo.
    Esta quinta-feira eu estava no TSE e ainda comentavam o ocorrido daquela sessão. O meirinho – que disse que nunca tinha vista aquele advogado antes naquela Corte – disse ainda que o advogado estava com muita sorte, pelo fato de não ser mais presidente o Marco Aurélio. “Se fosse” disse o meirinho “o advogado tinha saído do TSE preso”.

  • [...] e o julgamento dos embargos. No entanto, tem uma peculiaridade que deve ser observada; desde o julgamento de Marcelo Miranda o TSE aguarda a DECISÃO dos embargos, e não a PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO DOS [...]

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