O “Desomenageado”

Caros amigos, depois de breve parada retorno ao bLex para apresentar minhas impressões (que aos olhos alheios podem ser completamente equivocadas) relativas a fato que vem gerando grandes discussões em todo o país.

Na última sexta-feira(06/11/2009) foi lançado o livro Honoráveis Bandidos – Um retrato do Brasil na Era Sarney, do jornalista Palmério Dória que apresenta, sob um viés crítico e com tônica de aventura policial, a trajetória da família Sarney, com destaque ao patriarca político José Sarney.

A narrativa do livro apresenta José Sarney como bandido que com os demais membros do clã faz parte de uma gangue criminosa.

Já expressei em outra oportunidade minha dura visão a respeito do Senador José Sarney, que figura como um câncer em nossa democracia, servindo como verdadeiro baluarte de um jeito antigo e arcaico de se fazer política (membro de um grupo de que também fazem parte Maluf, ACM, Jarder Barbalho etc.), à base do corenelismo, que não mais pode persistir em um país que pretende se enquadrar como uma das maiores potências do mundo.

Só para dar uma noção da acidez do livro, seguem os títulos dos capítulos:

Nasceu, cresceu e criou dentes dentro do Tribunal

As primeiras trapaças com a urna

Al Capone seria aprendiz perto desse rapaz de bigodinho, disse o italiano logrado

Coronéis baixam no Maranhão com ordens de Castelo: “eleger” Sarney

Um milhão de maranhenses migram

Caçula diploma-se em delinquenciologia no governo Maluf

Homem da mala morre, dinheiro some

Sarney tem um troço

No confisco de Collor, caçula salva a grana da família na calada da noite

Na área de energia, vendem até o poste

Maranhenses só veem na tevê o que os netinhos da ditadura querem

Operação Boi-Barrica pega diálogos de arrepiar

Caçula não sai de casa sem o principal adereço: habeas corpus preventivo,

Lama jorra no Senado. A máquina de atos secretos.

Não adentrarei na discussão a respeito da veracidade ou não das denúncias apresentadas no livro (que diga-se de passagem são fortíssimas) sendo certo que tal discussão há de ser travada no âmbito do poder judiciário, onde das duas uma: ou o Sarney deve ser fortemente punido pelos inúmeros crimes perpetrados ou o autor deve ser condenado por calúnia e difamação.

O que quero destacar é que certo ou errado (e sinceramente creio eu que a pelo menos na maioria dos casos está certo) o autor já enfrenta a ira dos Sarney e tenho certeza que é apenas o começo.

No lançamento do livro, simpatizantes da família Sarney provocaram tumulto que terminou em pancadaria no Sindicato dos Bancários do Maranhão. O lançamento se deu na sede do sindicato porque nenhuma livraria do Maranhão aceitou ser a sede do lançamento. Destaca-se, ainda, que a obra, que já está entre as mais vendidas do país, é rejeitada pelas livrarias maranhenses que temem as represálias da família.

Pasmem: em nosso país há ainda espaço para situações que relembram os tempos da ditadura, que alguns acreditavam já vencidos, onde uma obra literária sequer é aceita nas livrarias com medo da ação dos governantes.

Contudo, dentre as medidas contrárias ao lançamento do livro, nenhuma me chamou mais a atenção que aquela tomada pela Assembleia Legislativa do Amapá que aprovou, por unanimidade, no último dia 27 de outubro, um voto de louvor requerido pelo deputado Camilo Capiberibe (PSB) ao jornalista Palmério Dória, provavelmente em uma daquelas votações que ninguém sabe o que está votando.

Percebido o erro, mais da metade dos deputados da Assembléia Legislativa do Amapá assinaram  e tentaram levar à votação, em 03/11/2009, requerimento do deputado Dalto Martins (PMDB) pedindo um “voto de revogação ao voto de louvor”. A medida foi paralisada depois que se verificou que não havia quórum para a votação. Ou seja, o autor do livro está correndo sério risco de ser desomenageado pela Assembleia Legislativa, por conta da mesma publicação que lhe rendeu homenagens.

Tenho certeza que o Senador Sarney recebeu como estadista a publicação do livro, tratando o assunto como uma das consequências inconvenientes dos sistemas democráticos que respeitam liberdade de expressão de imprensa. O problema é que a minha imaginação é fértil. Não consigo deixar de imaginar a seguinte (e fictícia) reação do nobre senador, ao ser comunicado da existência livro:

- Deem um fim nesse jornalistazinho.

- Mas senador, as coisas não são bem assim ,o Brasil inteiro tá de olho nele.

- Então vamos dar uma surra nele.

- Mas senador, vão desconfiar da gente, e o senhor sabe como é, aqui no Maranhão eu garanto que não sai nem uma notinha, mas a imprensa dos outros Estados, adoram caluniar V. Exa.;

- Então prenda!

- Prender também não dá.

- Então descubram se tem algum parente até o 20ª grau dele que exerce algum cargo público, que presta algum serviço para qualquer ente da federação, que com um telefonema eu acabo com esta mamata, aproveito e ponho alguém do Juninho;

- Isso já fizemos;

- Mas é pouco, faz o seguinte, quero uma fiscalização de todas as Fazendas Públicas e da Polícia Federal na Editora, no autor, em toda a sua família e em todas as livrarias que venderem o livro, que eu vou ligar pra Dilma apressar isso.